As trilhas de Saül

Saül: 100 anos já, ou quase. Um povoado nascido do ouro (que deseja sobreviver a ele). É aqui o coração geográfico da Guiana Francesa, um nó de nascentes de onde partem três grandes rios do País: Mana, Inini e Approuague. Uma região muito acidentada e florestal de difícil acesso. Como sempre acontece, foi precisa uma corrida pelo ouro para que os homens adentrem essas terras antigamente percorridas pelos ameríndios Emérillons.  Os garimpeiros surgem à partir de 1910, seguindo o exemplo do Saint-Lucien Sahul que é o primeiro a se instalar aqui. Até 1950, a cidade cresceu graças aos filões descobertos. Foi preciso desencravá-la. Uma estrada de ferro foi projetada, uma rodovia foi construida: a pista de Bélizon, que serpenteia até Caiena. Mas o ouro de fácil extração foi desaparecendo, assim como seu preço e a estrada serviu sobretudo para o êxodo sendo abandonada anos mais tarde, em 1960. Depois disso, só é possível chegar em Saül de avião. Quanto aos aldeões, que hoje são menos de cem, partiram para a floresta. E os antigos caminhos de prospecção das Minas, após serem reutilizados pelos botânistas para inventariar a flora local, são agora visitados pelos turistas vindos para descobrir uma das mais belas florestas do Parque Nacional da Guiana Francesa. Aos turistas, os Saülianos oferecem seus conselhos e recomendam principalmente « não caminhar » na floresta (fazendo muito barulho) mas de preferência,  apoiando bem o pés ao caminhar . E manter o passo leve, o olho atento e móvel e a orelha de pé. Os binóculos apostos. É preciso estar sempre preparado para parar, ficar imóvel em plena passada. Nem sempre avançar para ver melhor e se esquivar dos ângulos mortos,  verificar um movimento, se aproximar de um barulho, sentir… É inútil tentar encontrar o melhor ritmo para sua caminhada: ele é imposto. Raiz, galho morto, raiz, galho, raiz, raiz, tronco morto, desenraizamentos. Em seguidas subidas, descidas, incessantes – sempre curtas mas sempre íngremes. Os menos adeptos à longas caminhadas são rapidamente vencidos, os contempladores ficarão satisfeiros. A distância não conta, os principais caminhos de Saül formam alças, de mais ou menos doze quilômetros cada uma. As trilhas são dispostas em volta do povoado como as folhas de um trevo. Ao longo desses caminhos, as árvores, espetáculares, erguem-se diretamente rumo ao céu e só florescem quando chegam no alto  no dossel. O relevo permite, às vezes, observar por sobre esse teto vegetal e contemplar a névoa desaparecer ou um urubu-rei planando ao meio-dia. No chão, os riachos são como rubis, que rolam hora na areia, hora sobre rochas escavada de polidores ameríndios. Já a terra firme, é percorrida por uma fauna discreta que deve ser observada de madrugadinha: a sub-vegetação  ainda está úmida e as folhas não estalam sob os passos. Com bastante sorte e boas indicações, talvez você possa ver as lontras, tão habituais, e também saguis, macacos-aranha, araras, quatis, mutuns ou juruvas... enquanto que de noite você poderá encontrar facilmente os tatus, marsupiais e anfíbios; a não ser  que você queira compartilhar as noites com os acolhedores Saülianos. Nesse povoado habitado por amantes da natureza, as pessoas ficam felizes com novas companhias, nesse fim de mundo em pleno coração da Guiana Francesa.

Nos lecteurs ont lu ensuite

X
Le téléchargement des PDF des numéros n'est pas inclus dans votre abonnement
Envie de télécharger ce numéro au format digital ?

L'intégralité des articles et les PDF pour 29€ par an
Je m'abonne
Logo payement