Espatas e a expressão vegetal

Você já deve ter cruzado com ele. Uma figura estranha, esquelética, colhendo ali e acolá folhas na praça das Palmistas. Digamos que não se  tratam de simples folhas para ele. A “Roystonea regia” ou palmeira real não é originária da Guiana Francesa. Várias partes da planta são utilizadas: consome-se o broto terminal como palmito, a medula do estípite, seu caule, utilizado como farinha chamada de sagú, o pedúnculos eram trançados antigamente na fabricação de berços, e até mesmo de talas para a redução de fraturas. Mas o personagem em questão soube fazer de seus “resíduos vegetais”, uma segunda pele para as mulheres. Quando vemos que Patrick Lafrontière faz com essas espatas, constatamos que o talento toma formas inusitadas. “Basta observar algo com atenção para que ela se torne interessante”. Essa citação de Eugenio D’Ors y Rovira se torna muito evidente quando vemos o que Patrick pode realizar. Ele passa dias e mais dias colhendo o que as palmeiras majestosas deixam cair como longas lágrimas. Com paciência, ele leva todo esse material para a casa, trata, cuida, junta partes para conceber uma nova identidade. A gente chega imaginar que as roupas poderiam ser feitas por uma tribo de mulheres misteriosas, escondidas na vasta floresta, tais como as Amazonas. Às vezes áspera ou ondulada, às vezes lisa ou aveludada, as pessoas se surpreendem com a leveza ou durabilidade que essa matéria oferece, além da paleta de cores que vai do amarelo ocre ao vermelho, passando por todos os tons de marrom. Com seus inúmeros cadernos de croquis, ele adapta formas que se tornam extraordinárias criações vestimentares: vestidos curtos ou longos, assim como segundas peles de tanto que o material se assemelha ao couro, ou ao metal, reflexos cobreados, chapéus cobrindo os belos rostos de elegantes modelos que vestem suas criações, bustiês que parecem ter sido moldados em corpos ideais. Hoje, nós podemos imaginar que suas obras são a digna memória das últimas palmeiras que ornamentam  nossa celebre praça, que já foi uma imensa “ savana ”. Após ter feito desfiles por muitos anos em sua terra natal, Patrick agora é solicitado para mostrar suas obras na França e no Caribe. Recentemente ele participou do “Ethical Fashion Show” pela segunda vez, feira da moda étnica de Paris. Em breve ele deverá mostrar suas criações nas Bahamas e depois no Rio de Janeiro, Brasil em salões dedicados à moda. “Nós acreditamos olhar a natureza mas é a natureza que nos olha” (Christian Charrière o mestre da alma) e Patrick Lafrontière soube mudar nosso olhar. Nós esperamos que ele volte rapidamente com suas criações cada vez mais surpreendentes.

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